Controlar os gastos invisíveis, que passam despercebidos em meio a tantas opções e serviços digitais, se tornou um grande desafio da vida moderna. O problema é que ao final do mês a conta chega e, com ela, o susto com a fatura do cartão e a sensação de não saber exatamente como se gastou tanto.

Foi o que aconteceu com o securitário Marcos Nunes, de 28 anos. Recorrer à praticidade dos aplicativos de corrida se tornou um hábito e, sem que ele percebesse, em três meses a despesa com o serviço dobrou. “Já houve meses em que cheguei a pensar que com o valor das corridas eu poderia pagar a parcela de um carro popular. Então, passei a utilizar esses serviços só em casos de extrema necessidades. É muito fácil perder o controle sem perceber”, completa.

Quais são os gastos invisíveis mais comuns?

O exemplo de Marcos não está distante do que acontece com muitos brasileiros. Um estudo da plataforma de finanças pessoais Guiabolso mostrou que o consumo por meio de aplicativos de transporte compromete, em média, 10% do orçamento mensal dos brasileiros. O valor médio de gastos com esses aplicativos foi de 119 reais por mês. 

Nem sempre é tarefa fácil identificar gastos invisíveis como esse, mas com um olhar mais cuidadoso é possível distingui-los e mudar hábitos para combatê-los. Para auxiliar no momento de revisão dessas despesas que fogem ao controle, listamos 10 exemplos que podem comprometer seu orçamento. Confira, a seguir:

1 - Aplicativos de transporte/Delivery

A liberdade de solicitar um carro para ir ao seu destino de forma mais rápida ou receber a comida em poucos minutos foi naturalmente incorporada à vida moderna.

Mas, atenção: para que este serviço não entre para a sua lista de gastos invisíveis, é preciso parar e refletir quando o seu uso está extrapolando o orçamento mais do que deveria. A boa prática para brecar o volume alto desse custo não está necessariamente em cortar o seu uso, mas sim, definir limites. 

Uma das alternativas é fazer um planejamento diário de quanto se pode gastar. “Se você tem 15 reais para gastar por dia em transporte, por exemplo, provavelmente não poderá optar pelo aplicativo”, explica Julio Duran. “Mas, se economizou e conseguiu uma sobra de 30 reais por dia, o app pode ser uma boa opção”, completa.

2 - Anuidade do cartão de crédito

O cartão de crédito precisa ser um aliado, e não um vilão do seu orçamento. Ao somar a média de gastos com anuidades e outras tarifas por mês, você poderá se surpreender com o valor que pode economizar. 

Para brecar esse custo, busque negociar o valor da anuidade com o banco operador do cartão. O consumidor pode economizar entre 25% e até 100% dependendo do pacote contratado na sua conta corrente. “O ideal é estabelecer um limite financeiro e acompanhar numa planilha todos os gastos, inclusive os futuros (do cartão de crédito)”, destaca Julio Duran, diretor de produto e tecnologia do Guiabolso. 

3 - Gastos por impulso

Um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito em 2018 mostrou que seis em cada dez consumidores aproveitam ofertas de crédito para realizar compras por impulso. 

A orientadora financeira Dora Ramos defende que, mesmo com o passar dos anos, este hábito não muda, e as compras por impulso continuam sendo comuns. Parte desse cenário se deve ao fato de sermos bombardeados o tempo todo com propagandas e mensagens incentivando as compras. 

“Muitas vezes a compra por impulso vira um arrependimento. Então o ideal é saber claramente o quando você ainda pode gastar do seu limite financeiro mensal para evitar esses gastos”, explica Dora Ramos. 

4 - Ofertas de supermercado

As promoções de supermercados são sempre tentadoras, mas será que você realmente precisa daquele produto em oferta ou está comprando apenas porque está mais barato? A ideia de economizar no supermercado não está necessariamente em comprar itens dos quais você não precisa, de fato. 

De acordo com a orientadora financeira, é necessário separar desejo de necessidade nesse momentos. Uma dica interessante para reduzir as compras por impulso no supermercado é fazer compras semanais. 

Monte uma lista de fácil acesso sobre os mantimentos a comprar e, assim que algum acabar, adicione o produto à lista. Assim, você terá o controle do que é essencial comprar e não terá margem para adicionar itens que você não está precisando no carrinho. 

5 - TV por assinatura 

Tal como os planos de celulares pós-pagos, os pacotes de TV por assinatura também estão entre os gastos invisíveis. Como nem tudo o que você quer assistir está disponível nas programações dos canais, as empresas desse segmento oferecem filmes e séries que podem ser comprados separadamente do pacote assinado - e é neste momento que mais gastos invisíveis podem surgir no seu orçamento.

“São despesas que temos mais dificuldade de controlar por conta da praticidade de aquisição: queremos apenas assistir e deixamos a preocupação com o pagamento para depois”, explica a educadora financeira. 

6 - Passeios no shopping

Basta uma breve caminhada por alguns corredores do shopping e você poderá sair de lá segurando sacolas sem se dar conta. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) em parceria com a GFK a revelou que os brasileiros passam, em média, 76 minutos no shopping. A cada passeio, gastam em torno de 196 reais.  

Este valor, que muitas vezes é gasto com supérfluos, pode fazer prejudicar o orçamento mensal. Por isso, o ideal é sempre ir ao shopping center com um objetivo claro e evitar a entrada em lojas com itens que não são necessários no momento. 

7 - Multas por atraso de pagamento

Assim que você se esquece de pagar uma conta, seja ela boleto ou cartão de crédito, terá de arcar com juros que tornarão o montante das suas dívidas maior. A população possui muita dificuldade com esse gasto invisível: cerca de 62,6 milhões de brasileiros encerraram o ano de 2018 com alguma conta em atraso e CPF negativado. Esse número representa pelo menos 41% da população adulta, segundo dados do SPC Brasil divulgados em janeiro. 

“Se o atraso for em mais de uma conta, seja ela boleto ou cartão de crédito, o valor pago em juros pode prejudicar muito a sua capacidade de controle, porque os juros ficam camuflados do valor final”, alerta Dora. 

Para evitar o pagamento de contas em atraso, considere incluir algumas opções como cartão de crédito e contas de água ou luz no débito automático. Deste modo, você evita o arcar com tarifas por atraso. 

8 - Teste grátis

Um dos atrativos de muitas empresas empresas ao consumidor é oferecer um período gratuito para testar novos serviços. Mas, não se engane: em alguns casos, a cobrança pode começar a ocorrer e, sem que você se dê conta, o gasto já entrou no seu orçamento doméstico. 

Por isso, tenha sempre em mãos um controle com os serviços que você contratou e, em caso de testes gratuitos, marque na sua agenda a data em que o período vai se encerrar e verifique se realmente vai continuar utilizando esse serviço. 

9 - Cafezinhos e refeições fora de casa

Existem muitos momentos em que a tentação de comprar um lanche ou fazer a refeição não planejada fora de casa fala mais alto. 

Quando não contabilizado, esse gasto invisível pode ser um alto fator corrosivo em seu orçamento. Afinal, se você gasta 7,50 reais todos os dias com um café e um pão na chapa, por exemplo, serão 225 reais mensais do seu orçamento apenas para esse curto. Em um ano, esse valor seria de 2 700 reais. 

A dica da orientadora financeira Dora Ramos é criar o hábito de cozinhar em casa. “É mais barato e, muitas vezes, mais saudável. Separe um tempo para fazer isso no seu ambiente, seja para tomar café da manhã ou na hora do jantar, quando bate aquela vontade de pedir algo via delivery”, diz. 

Leia também: Comida saudável é mais cara? Como manter a dieta em dia e economizar

10 - O truque do frete

As compras pela internet se tornaram um hábito entre os brasileiros. Não à toa, 75% dos jovens se tornaram consumidores assíduos por meios virtuais, segundo dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).

O grande perigo dessa modalidade está em “aproveitar” a ocasião de compra para levar mais produtos apenas para “compensar” o preço do frete. Atingir um limite de compras apenas para não pagar pelo frete é um gasto invisível que certamente pode comprometer o seu orçamento. 

O ideal é que você consulte as normas do e-commerce em que deseja fazer a compra e veja se existem descontos para frete, mesmo que o produto demore um pouco mais do que o normal para chegar à sua residência. 

Gastos invisíveis: como surgem as pegadinhas? 

Os gastos invisíveis representam um grande problema porque, culturalmente, o brasileiro não possui o hábito de se planejar financeiramente. Segundo estimativas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 46% dos consumidores não fazem qualquer tipo de controle das contas. Como consequência, a margem para que pequenos gastos se tornem grandes dívidas é maior.

Na visão de Julio Duran, a falta de planejamento financeiro faz com que custos rotineiros, como o uso de aplicativos de transporte e entrega de comida pareçam imperceptíveis e tendem a se tornar um problema no longo prazo. “A pessoa pensa que será apenas mais um pequeno custo, mas no fim do mês, a soma se transforma numa conta grande”.

O surgimento desses custos estão camuflados em pequenos hábitos diários, como um simples café fora de casa, aquela preguiça de voltar pra casa no transporte público ou até mesmo quando se escolhe um filme lançado com exclusividade pela operadora de TV por assinatura.

Combatendo os gastos invisíveis: crie um plano de ação

Após mapear quais sãos os gastos invisíveis mais prejudiciais ao seu orçamento, é chegado o momento de criar um plano de ação para reverter esse quadro. A boa e velha lista, que pode ser feita em papel ou controlada em aplicativos de organização financeira gratuitos, é o primeiro passo de tudo. 

Busque anotar a frequência com que você repete determinados gastos ao longo do dia ou da semana e fique atento sempre no montante que esse hábito pode representar no seu cartão. 

Caso não seja fã de planilhas, existem aplicativos fáceis e práticos de usar  que ajudam muito a controlar o orçamento, como o Guiabolso, Organizze, Mobills, entre outros. 

Outro ponto a ficar atento é que não é necessário realizar cortes drásticos para organizar as finanças. As boas práticas da educação financeira indicam que é mais fácil você estabelecer limites aos gastos que costumam se repetir do que, necessariamente, cortá-los. 

Quando você impõe um limite para cada custo, a possibilidade de se assustar com a fatura no final do mês é consideravelmente menor.