Simule seu crédito
Soluções
Seguros
Soluções de seguros para proteger suas conquistas. Cote online, compare preços e economize com a maior corretora online do país, a Minuto Seguros, uma empresa Creditas.
Para você
Empresas
Controle Financeiro
Eleições dos EUA, conflito entre americanos e chineses, crise no Oriente Médio. Saiba quais as ameaças geopolíticas para este ano – e o que deve ser acompanhado de perto
por Elaine Ortiz
Atualizado em 11 de fevereiro, 2021
RESUMO DA NOTÍCIA
|
Todos os anos, desde 1998, a consultoria de risco político Eurasia publica no início de janeiro um relatório apontando as dez tendências políticas e geopolíticas mais desafiadoras para os investidores globais. Neste ano, entre os temas que ganharam relevância, os Estados Unidos são destaque.
“É a primeira vez que a Eurasia coloca a questão da instabilidade norte americana como principal risco do mundo”, diz Cristina Soreanu Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Dos dez riscos elencados no relatório, os Estados Unidos têm participação nos mais importantes, como a questão com Oriente Médio, que piorou após a ação dos Estados Unidos que resultou na morte do general iraniano Qassim Suleimani, e ainda a dissociação com a China por conta da guerra tecnológica”.
Segundo os presidentes da consultoria, Ian Bremmer e Cliff Kupchan, a política doméstica dos EUA nunca havia sido listada como o principal risco porque as instituições americanas estão entre as mais fortes e mais resilientes do mundo. “Este ano, no entanto, essas instituições serão testadas de maneira sem precedentes, com os riscos de uma eleição que muitos veem como ilegítima, incerta, como consequência de um ambiente político menos estável”.
Os analistas políticos apontam também que a globalização segue sendo chave, já que criou “oportunidades e riquezas ao longo dos últimos anos com troca de ideias, bens e capital humano”. Porém, China e Estados Unidos estão se dissociando em termos de tecnologia, enquanto países do mundo desenvolvido estão se tornando cada vez mais polarizados.
Ainda segundo o relatório, a economia global agora está vendo suas taxas de crescimento diminuir, com mais economistas esperando uma recessão em 2020 ou 2021. Além disso, o mundo está entrando em uma “recessão geopolítica”, com a falta de uma liderança global e a falência de órgãos multilaterais.
As mudanças climáticas, uma Europa cada vez mais independente, a questão da Turquia, a tensão na Índia e a instabilidade de uma América Latina polarizada também fazem parte da lista de riscos globais.
Leia mais: Como uma nova crise econômica mundial afetaria o Brasil?
Para entender o que pode movimentar a economia global e brasileira ao longo de 2020, e o que deve ser analisado com atenção ao longo do início da nova década, confira os dez principais riscos listadas pela Eurasia neste ano:
2020 é ano de eleição no Estados Unidos, novembro será um mês decisivo para o mundo. Segundo os analistas políticos da Eurasia, se Donald Trump for reeleito, em meio a um processo de impeachment, o resultado será contestado. Se ele perder, em uma eleição apertada, o pleito também corre o risco de ser deslegitimado.
Qualquer um desses cenários é negativo, pois cria um vácuo político e, após meses de embates judiciais, é improvável que o perdedor não aceite um resultado decidido pelo tribunal como legítimo.
“Trump se lançou candidato logo que a questão do impeachment começou a ser discutida, afirmando que o processo era uma tentativa de impedir sua candidatura”, explica a professora da Unifesp, Cristina Pecequilo. “O país está claramente dividido, esse ano de 2020 vai ser tensão em cima de tensão, mas Trump precisa desse estilo belicista para manter sua base eleitoral coesa. Se for reeleito, ele ajusta depois, mas esse ano vai ser mais violento”.
A decisão de EUA e China de se dissociarem no setor de tecnologia está interrompendo fluxos bilaterais não só tecnológicos, mas também de talento e investimento, de acordo com a Eurasia. Em 2020, além dos setores estratégicos, como semicondutores, computação em nuvem e 5G, a atividade econômica será atingida de forma mais ampla. “Essa tendência afetará não apenas o setor de tecnologia global estimado em US$ 5 trilhões, mas também outras indústrias e instituições”, diz o relatório.
A professora da Unifesp, Cristina Peccequilo, explica que essa dissociação do Estados Unidos e da China tem acontecido nos últimos cinco anos. “Tradicionalmente, Estados Unidos e China caminharam juntos nessas questões econômicas e de tecnologia, só que de cinco anos para cá houve uma separação muito forte, a China quer se tornar mais autônoma no campo da economia de ponta, economia verde, tecnologia, 5G”, explica. “Hoje a China está se tornando competidora dos Estados Unidos com investimentos em ciências e tecnologia, áreas nas quais os Estados Unidos nunca tinham tido muitas ameaças”.
A terceira ameaça ao mundo está fortemente relacionada à segunda, mas de forma ainda mais ampla. A tendência é que, após se dissociar completamente da China, as tensões entre os países aumentem, provocando um choque mais explícito sobre segurança, influência e valores nacionais.
Sanções, controles de exportação e boicotes provavelmente continuarão sendo usados como ferramentas econômicas para a queda de braço.
Segundo a Eurasia, as divergências entre as estruturas políticas dos dois países estão trazendo diferenças irreconciliáveis e “a rivalidade será cada vez mais travada como um choque de valores e animados pelo fervor patriótico”.
Diante de uma crise do multilateralismo, com o enfraquecimento de órgãos de solução de controvérsias como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas (ONU), e a ascensão do mundo G-Zero, na qual nenhum país ou bloco de países tem o poder político e econômico para tocar uma agenda internacional, muitos observadores acreditam que as empresas multinacionais podem preencher as lacunas na governança global.
“Nós somos céticos. Especialmente no cenário em que as empresas enfrentam uma regulamentação regulatória e ambiente geopolítico conflituoso no próximo ano”, aponta a consultoria. A Eurasia avalia que as empresas multinacionais enfrentarão novas pressões de políticos, eleitos e não eleitos. “Os políticos que trabalham para estancar a desaceleração do crescimento global, a crescente desigualdade, os rivais populistas e os desafios de segurança criados pelas novas tecnologias se afirmarão às custas das multinacionais”, avaliam.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o seu governo revogaram, em 2019, o status especial para Jammu e Caxemira, removendo a autonomia de sete décadas da região disputada pelo país e pelo Paquistão. Além disso, comandaram um plano para tirar a cidadania de quase 2 milhões de pessoas em Asam, estado do nordeste da Índia foco de tensões religiosas e étnicas, e aprovaram uma lei de imigração que gerou protestos por levar em consideração filiação religiosa. “Manifestações de vários tipos se espalharam por toda a Índia, mas Modi não recuará e uma resposta dura do governo em 2020 pode provocar ainda mais protestos”, afirma a Eurasia.
Segundo o relatório da Eurasia, as autoridades europeias acreditam que a União Europeia deve se defender mais agressivamente contra modelos econômicos e políticos concorrentes. Com relação à regulamentação, as autoridades antitruste continuarão a combater os gigantes da tecnologia norte-americanos.
No comércio, a União Europeia se tornará mais assertiva em matéria de aplicação de regras e retaliação. Em segurança, as autoridades tentarão usar o maior mercado comum do mundo para derrubar barreiras fronteiriças ao comércio militar e ao desenvolvimento de tecnologia. Essa Europa mais independente gerará atritos com os EUA e China.
A política atual de mudança climática não está funcionando, diz o relatório. Dezenas de países assinaram o Acordo de Paris cinco anos atrás para limitar o aumento da temperatura global em 2ºC no final do século, mas os estados-nação têm falhado em implementar políticas para atingir esse objetivo.
“Em 2020, esse fracasso deve levar a decisões corporativas abaixo do que é visto como ideal, interrupções operacionais dos negócios e instabilidade política”, afirma a consultoria.
“A sociedade civil será implacável com investidores e empresas caso achem que eles estão se movendo muito devagar. Empresas de petróleo e gás, companhias aéreas, fabricantes de automóveis e produtores de carne sentirão o efeito. A interrupção nas cadeias de suprimentos é um risco significativo. Os investidores reduzirão as exposições a indústrias intensivas em carbono, reduzindo o preço dos ativos. Tudo isso torna os desastres naturais mais prováveis, mais frequentes e mais graves”, afirmam.
O fracasso da política dos EUA em relação ao Irã, Iraque e Síria ficou mais evidente após os EUA matarem um alto comandante militar iraniano, o general Qassim Suleimani, na última sexta-feira (3), trazendo mais riscos para a estabilidade regional.
Para a consultoria, nem o presidente americano, nem os líderes do Irã querem uma guerra total mas, na avaliação deles, é provável que haja conflitos mortais no Iraque entre as tropas dos EUA e do Irã.
“O Irã deve interceptar mais navios-tanque no Golfo Pérsico e pode atingir os EUA no ciberespaço. Também pode usar aliados em outros países do Oriente Médio para atingir cidadãos e aliados dos EUA. Está aumentando a chance do governo iraquiano expulsar as tropas americanas este ano, enquanto a resistência popular de alguns iraquianos contra a influência do Irã lá pressionará o estado iraquiano – o segundo maior produtor de petróleo da OPEP. A política imprudente dos EUA na Síria também aumentará o risco regional em 2020”.
A consultoria aponta que as sociedades latino-americanas têm se tornado cada vez mais polarizadas nos últimos anos. Prova disso são os inúmeros protestos em diferentes países ocorridos no segundo semestre de 2019.
Em 2020, o descontentamento público com o cenário de baixo crescimento, corrupção e baixa qualidade dos serviços públicos devem manter a instabilidade política como um risco alto.
“Nós iremos ver mais protestos, aumento da força dos políticos anti-establishment e os resultados das eleições da região podem ser menos previsíveis”, avaliam.
Para a professora da Unifesp, Cristina Peccequilo, o cenário não é bom para a América Latina. “Não há muita perspectiva de mudar o cenário dessa região que menos cresce no mundo”, diz. “A aliança do Brasil com os Estados Unidos, por exemplo, não gera fatos positivos, pelo contrário, apresenta o risco de perder investimento da China, confiabilidade dos investidores, isolamento que acaba refletindo na economia, nessa instabilidade. A situação piora quando o Brasil apoia casos polêmicos, como a morte do general iraniano. A tendência é perder mercado, afinal o Irã é um dos nossos maiores compradores de commodities”.
De fato, o Irã é o 23º país na lista dos principais importadores de produtos brasileiros e o 4º país mais importante para o agronegócio brasileiro. Os iranianos importaram US$ 2,2 bilhões em produtos alimentares do Brasil em 2019, 3% de tudo o que o país exportou nesse setor.
Leia mais: Quais são os rumos da economia brasileira, segundo Otaviano Canuto
Recep Tayyip Erdogan, presidente turco, entrou em um período de declínio do poder político e perda de popularidade, principalmente entre a população mais jovem.
O seu partido sofre deserções, com antigos aliados populares criando novos partidos, enquanto a sua coalizão governista é instável. “As relações com os EUA atingirão novos patamares de deterioração, já que as sanções provavelmente entrarão em vigor no primeiro semestre deste ano, minando a reputação e o clima de investimento do país e pressionando ainda mais a lira, moeda local. As respostas de Erdogan a essas várias pressões prejudicarão ainda mais a economia em dificuldades da Turquia”, diz a Eurasia.
Imagem: Casa Branca (Estados Unidos)
Newsletter
Exponencial
Assine a newsletter e fique por dentro de todas as nossas novidades.
Ao assinar a newsletter, declaro que concordo com a Política de privacidade da Creditas.