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Nos últimos dois anos, tarifas bancárias sobem o dobro da inflação

Reajuste médio praticado pelos 5 maiores bancos do país foi de 14%, enquanto a inflação subiu 7,4%. Conheça os serviços gratuitos aos quais o consumidor tem direito

por Flávia Marques

Atualizado em 11 de fevereiro, 2021

Nos últimos dois anos, tarifas bancárias sobem o dobro da inflação

Os bancos digitais e fintechs chegaram ao mercado brasileiro com promessas atraentes: oferecer produtos de qualidade, experiência de atendimento diferenciada e, principalmente, economia de tempo e dinheiro aos usuários. Ao que parece, o discurso funcionou, e a procura pelas instituições tecnológicas cresceu de maneira expressiva. No entanto, o aumento da concorrência digital ainda não impactou de fato no reajuste das tarifas bancárias, que continuam subindo muito acima da inflação. 

É o que mostra um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). O estudo comparou as tarifas praticadas pelos cinco principais bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander) entre abril de 2017 e março de 2019. Durante a pesquisa, que analisou 70 pacotes de serviços oferecidos pelas instituições financeiras, o Idec constatou que o reajuste médio aplicado foi de 14%, quase o dobro da inflação, que subiu 7,4%. 

Para Fabrício Winter, sócio da consultoria financeira Boanerges & Cia., a grande concentração bancária no Brasil é uma das principais razões que levam à prática de taxas abusivas. Hoje, as cinco maiores instituições detém mais de 80% dos ativos totais do segmento bancário comercial. 

“A concorrência no setor ainda é tímida, então, os bancos tradicionais ainda têm espaço para cobrar mais pelos serviços que oferecem”, comenta o especialista em serviços financeiros. “A chegada dos bancos digitais e fintechs, que normalmente oferecem taxas mais atrativas, é um movimento importante, mas ainda é tímido e muito recente. Os grandes bancos estão de olho nessa novidade, mas ainda não estão incomodados a ponto de praticarem taxas menores para competir com as novas empresas”, acrescenta. 

A falta de educação financeira também contribui para a construção dessa realidade. Mais de 50% dos brasileiros não sabem dizer quanto pagam em tarifas bancárias, segundo análise realizada recentemente pelo Ibope Inteligência. “O consumidor, de modo geral, é pouco educado para identificar e comparar tarifas. Por isso, é natural que alguns nem percebam os ajustes”, diz Fabrício. 

Fintechs: novas possibilidades para fugir das tarifas bancárias 

Ao sentir o peso das tarifas bancárias no orçamento, o consumidor pode passar a buscar alternativas. Atento a esse movimento, o mercado amplia as ofertas de soluções por meio da atuação de novas empresas: as fintechs, que apostam na tecnologia para reduzir os custos de operação e, por consequência, os preços repassados aos clientes. 

Nesse cenário, os bancos tradicionais ganham um enorme desafio: manter o crescimento de receitas e lucros e enfrentar a concorrência que tem custos mais baixos. Em nota, Ione Amorim, economista do Idec, avaliou a entrada dessas empresas no mercado como vantajosa para o consumidor e para fomentar um ambiente concorrencial. “Para o cliente, essa pode ser uma grande oportunidade de mais alternativas de serviços que atendam melhor suas necessidades”, declarou a economista. 

Fabrício Winter também acredita que a entrada de fintechs e bancos digitais no setor tira o consumidor de uma posição de submissão. “Hoje, o usuário não pode mais se colocar como vítima dos bancos. É preciso aproveitar o aumento das opções para buscar as melhores ofertas e, mais do que isso, encontrar um lugar onde ele receba o melhor atendimento possível”, comenta. “A boa notícia é que já existem alternativas ideais para atender diferentes perfis, o que é muito positivo”, avalia. 

Bancos tradicionais mantém tarifas abusivas

Enquanto o baixo custo dos serviços tem impulsionado as fintechs e bancos digitais, as instituições tradicionais mantêm os preços dos serviços em alta e realizam reajustes de pacotes e tarifas avulsas acima da inflação. Na análise dos 20 principais serviços mais utilizados pelos consumidores, o Idec constatou aumentos muito além do esperado. 

Confira o comparativo de alguns dos pacotes de tarifas bancárias com maior reajuste nos últimos dois anos: 

Comparativo dos pacotes de tarifas com maior reajuste em dois anos

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O estudo também analisou os reajustes de tarifas avulsas no período. A maior variação registrada, em 89%, foi a de pagamento de conta no cartão de crédito pelo Banco do Brasil. Veja algumas das tarifas avulsas com os maiores reajustes: 

Tarifas avulsas com os maiores reajustes em dois anos

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Bancos digitais e fintechs têm vantagens, mas também merecem atenção 

Em 2018, um estudo realizado pelo Banco Mundial mostrou que 30% dos brasileiros ainda não têm acesso a serviços financeiros. Entre eles, 85% utilizam telefonia celular. Além de contribuir para a redução dos custos e manutenção da qualidade na prestação dos serviços, os bancos digitais também podem facilitar as políticas de inclusão financeira. 

A oferta de tarifas baixas - e, em alguns casos, a isenção delas - é o que tem atraído muitos clientes para os bancos digitais. Mesmo assim, é importante verificar a fundo os valores praticados por essas empresas. O Idec também avaliou os serviços oferecidos pelos maiores bancos virtuais do país, e em todos havia cobrança de algum tipo de serviço, como mostra a tabela abaixo: 

Serviços oferecidos nos bancos virtuais e tarifas em março de 2019 

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Assim como nos bancos tradicionais, os usuários de bancos digitais precisam ficar atentos às taxas cobradas. Fabrício Winter orienta que o cliente preste atenção nos anúncios de isenção de tarifas. “Não existe almoço grátis. Toda empresa que oferece serviços têm custos que precisam ser compensados de alguma forma”, explica. “Então, quando os bancos dizem que não têm taxas, geralmente estão querendo dizer que podem não cobrar uma mensalidade fixa, mas o usuário tem um limite de operações para usar gratuitamente”, completa. 

Ele também chama a atenção para a necessidade de fazer comparações frequentes dos serviços tarifados e explica que o usuário precisa compreender o seu perfil de consumo para garantir a escolha dos melhores pacotes. “Se o consumidor precisa fazer muitas transferências bancárias por mês, por exemplo, é importante observar quantas operações como essa o banco digital oferece dentro do pacote de gratuidade”, afirma o especialista. “Dependendo do caso, vale a pena pesquisar outras possibilidades e, aí sim, contratar um pacote pago para usufruir desses serviços”, comenta. 

Pacote básico gratuito: o que está incluso? 

Muitos não sabem, mas todos os clientes bancários têm direito a um pacote gratuito de serviços, regulamentado pelo Banco Central. Também conhecido como pacote de serviços essenciais, ele garante um mínimo de serviços isentos da cobrança de tarifas nas contas bancárias, como fornecimento de cartão de débito, ao menos quatro saques e duas transferências por mês dentro do mesmo banco. Veja a lista completa: 

Serviços essenciais de conta corrente 

  • Fornecimento de cartão com função débito; 
  • Fornecimento de segunda via de cartão, exceto nos casos de pedido de reposição formulados pelo correntista decorrentes de perda, roubo, furto, danificação e outros motivos não imputáveis à instituição emitente;
  • Realização de saques em guichê de caixa, inclusive por meio de cheque ou de cheque avulso, ou em terminal de autoatendimento (no mínimo quatro por mês);
  • Realização de transferências de recursos entre contas na própria instituição (no mínimo dois por mês);
  • Fornecimento de extrato contendo a movimentação dos últimos trinta dias por meio de guichê de caixa e/ou terminal de autoatendimento (no mínimo dois por mês);
  • Realização de consultas mediante utilização da internet; 
  • Fornecimento anual de extrato consolidado; 
  • Fornecimento de extrato contendo a movimentação dos últimos trinta dias por meio de guichê de caixa e/ou terminal de autoatendimento;
  • Realização de consultas mediante utilização da internet (no mínimo dois por mês);
  • Compensação de cheques;
  • Fornecimento de folhas de cheque (no mínimo dez por mês); 
  • Prestação de qualquer serviço por meios eletrônicos, no caso de contas cujos contratos prevejam uso exclusivo de meios eletrônicos.

 

Serviços essenciais de conta poupança

  • Fornecimento de cartão com função movimentação;
  • Fornecimento de segunda via do cartão, exceto nos casos de pedidos de reposição formulados pelo correntista decorrentes de perda, roubo, furto, danificação e outros motivos não imputáveis à instituição emitente; 
  • Realização de saques em guichê de caixa ou em terminal de autoatendimento (no mínimo dois por mês);
  • Realização de transferências para conta de depósito de mesma titularidade (no mínimo dois por mês);
  • Fornecimento de extrato contendo a movimentação dos últimos trinta dias (no mínimo dois por mês);
  • Realização de consultas mediante utilização da internet;
  • Fornecimento anual de extrato consolidado;
  • Prestação de qualquer serviço por meios eletrônicos, no caso de contas cujos contratos prevejam uso exclusivo de meios eletrônicos.

Fonte: Banco Central

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