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4 dias de trabalho: como funciona essa prática que reduz a jornada de trabalho

Jornada mais curta de trabalho pode se tornar uma tendência nos próximos anos. Saiba mais sobre ela nesta matéria!

por Leonardo Cruz

Atualizado em 3 de março, 2023

4 dias de trabalho: como funciona essa prática que reduz a jornada de trabalho

Quer saber mais sobre a semana de 4 dias de trabalho? Então veio ao lugar certo. Nessa matéria, você vai saber como ela começou a ser aplicada, os primeiros resultados observados e os prós e contras dessa prática. Acompanhe!

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Evolução da jornada de trabalho

Antes de mergulhar nas informações dessa nova prática, é importante trazer um breve contexto da jornada de trabalho como conhecemos.

No início da industrialização do século XX, muitos países, incluindo o Brasil, tinham como prática uma jornada de trabalho extensa, entre 14 e 18 horas, principalmente nas atividades de chão de fábrica que definiam por si quanto o tempo o trabalhador deveria estar disponível.

Em 1919 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabeleceu um limite máximo de 48 horas semanais de trabalho, reduzida para 40 horas posteriormente. No Brasil, essa redução de carga horária aconteceu somente após a Constituição de 1934, que prevê a duração da jornada para 8 horas diárias, entre outros direitos trabalhistas.

O que é a jornada de quatro dias de trabalho? 

Muitas coisas vêm mudando nas relações de trabalho nos últimos anos. E boa parte dessas mudanças estão atreladas a uma jornada mais flexível para colaborador, que vêm sendo colocada em prática por boa parte das empresas por meio do formato híbrido ou remoto – um processo que já vinha se desenhando na última década e se aplicou com força total na rotina dos profissionais após a pandemia.

Dentro dessa premissa da flexibilidade, outra ação tem sido discutida: a jornada de trabalho de 4 dias, que já vem sendo testada ao redor do mundo em algumas empresas, inclusive brasileiras, para mapear um possível aumento de desempenho e produtividade do colaborador atrelado às práticas de bem-estar, tão essenciais nas novas tendências de trabalho.

A redução da jornada, porém, levanta muitos pontos de atenção de dúvidas, como a escolha do dia de folga, se o salário é reduzido e se essa prática é sustentável a longo prazo. O fato é que ainda não é possível ter todas essas respostas por conta do ineditismo desta ação, mas já é possível delinear algumas percepções a partir das experiências de algumas empresas que aderiram a semana de quatro dias e que vamos trazer mais adiante.

Como funciona a semana de quatro dias de trabalho?

A redução se dá, na prática, com a redução da jornada semanal, que geralmente é de 40 a 44 horas semanais, para 32 ou 36 horas, possibilitando mais um dia livre para o colaborador, além do fim de semana. Porém, é importante ressaltar que, mesmo com a redução de horas, deve ser assegurada a manutenção do salário definido no contrato de trabalho.

Ainda não há um consenso sobre qual dia da semana é o indicado para estabelecer a folga para os colaboradores e tudo indica que isso depende da natureza da atividade, dinâmica de trabalho e do melhor aproveitamento do colaborador. Algumas empresas, por exemplo, implementaram o dia livre na quarta-feira, enquanto outras na sexta ou segunda. Outras, ainda, dividiram a equipe de forma que um grupo realize a jornada de segunda a quinta e outro grupo de terça a sexta.

Em relação à aplicação da semana de 4 dias para todos os funcionários, também não há uma regra. Muitas empresas implementaram em determinadas equipes para acompanhar sua produtividade antes de incluir todos os colaboradores no benefício, enquanto outras cederam o dia livre para todos os profissionais, exceto para diretores e outras lideranças que ainda cumpriam a jornada total.

Como se vê, é uma prática ainda em testes e, ao longo do tempo, será possível entender de forma mais consistente quais são os seus benefícios e pontos de atenção.

Como surgiu a semana de quatro dias?

Ainda que pareça bastante recente, as primeiras experiências mais significativas na jornada reduzida foram observadas em 2018, quando um empresário da Nova Zelândia, Andrew Howard Barnes, comunicou aos seus funcionários que faria uma experiência durante oito semanas: passariam a trabalhar somente quatro dias semanalmente, ganhando um dia de folga extra, sem qualquer redução salarial.

Andrew levou seus resultados para estudos acadêmicos, que foram divulgados em sua palestra no TEDxAuckland em 2019. Os resultados, segundo ele, foram os seguintes:

  • a qualidade das entregas foi mantida;
  • o equilíbrio entre vida pessoal e profissional melhor sensivelmente, passando de 54% para 78%;
  • os níveis de estresse das equipes diminuiu de 45% para 48%;
  • o engajamento também teve melhoria expressiva: passou de 68% para 88%.

Esses resultados possibilitaram que a semana de quatro dias fosse implementada definitivamente na empresa de Andrew, que ainda fundou uma organização, a 4 Day Week, para auxiliar as demais companhias e países a aderirem a nova prática.

No Brasil, a ideia já estava circulando em 2017, quando Thiago Veloso, fundador da empresa Crawly, startup mineira de automação de dados que já iniciou suas atividades em trabalho remoto, implementou o benefício somente para a área de desenvolvimento. Em 2021, colaboradores de outras áreas passaram a usufruir da semana mais curta, trabalhando de segunda a quinta, oito horas por dia.

O que diz a CLT?

Em relação às leis trabalhistas do Brasil não existe qualquer impedimento para que as empresas optem pela jornada reduzida – desde que não haja qualquer diminuição salarial. O único limite é para a carga horária máxima de 44 horas semanai, mas nenhum direcional é feito sobre carga mínima.

Nesse caso, a companhia deverá realizar um acordo com os colaboradores que pode ser feito por meio de aditivo no contrato de trabalho.

Prós e contras da semana de quatro dias

Uma mudança dessa magnitude em nossa rotina de trabalho, ainda que pareça um sonho para qualquer trabalhador, pode trazer também algumas desvantagens que devem ser consideradas ao implementar essa prática. A seguir, vamos listar os prós e os contras da semana de quatro dias. Confira!

Prós

Temas tão urgentes e discutidos massivamente nos últimos anos, a qualidade de vida e saúde mental do trabalhador podem ser amplamente beneficiadas com a redução da jornada. A maior parte das empresas que realizaram o teste puderam observar melhorias significativas nesse quesito, que refletem em uma melhor satisfação pessoal e com o trabalho.

Para as empresas, o bem-estar do colaborador reflete de forma direta em sua produtividade, eficiência, comprometimento e engajamento. Outro efeito colateral positivo da prática é a redução do absenteísmo, já que o funcionário tem um dia a mais para descansar e resolver problemas pessoais, e o impacto na retenção e atração de talentos com esse importante diferencial.

Contras

Nem todas as empresas e equipes estão aptas para aderir a este sistema, especialmente aquelas que realizam atendimento ao público, já que a semana continua tendo 5 dias úteis e fins de semana em funcionamento em alguns casos. Para isso, seria necessário contratar novos profissionais para completar a jornada, o que poderia ser inviável do ponto de vista financeiro e de gestão.
Além disso, a imposição dessa prática sem entender o contexto da empresa, sua cultura e suas necessidades para atingir os resultados esperados pode surtir o efeito exatamente contrário, com colaboradores se sentindo “culpados” pelo dia a mais de descanso e sobrecarregados na jornada de trabalho restante, gerando grande frustração e ainda mais estresse do que o modelo tradicional.

A semana de quatro dias ainda será bastante discutida e poderá de fato ser uma tendência nos próximos anos. Ainda que não seja factível a sua implantação na maior parte das empresas neste momento, certamente é um tema que será aprofundado no futuro e é importante que organizações e profissionais de RH estejam atentos para essa nova dinâmica de trabalho.

Quais países já estão testando?

Além da Nova Zelândia, outros países que estão observando os benefícios da semana de quatro dias de forma mais ativa são Espanha, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia e Islândia, que realizou testes entre 2015 e 2019 com cerca de 1% de sua força de trabalho (o equivalente a 2,5 trabalhadores), que tiveram sua jornada reduzida para 35 ou 36 horas semanais sem reajuste salarial. Para os especialistas islandeses, a iniciativa foi um sucesso e trouxe melhorias significativas na produtividade e qualidade de vida do colaborador.

Já a Espanha tem buscado voluntários em centenas de empresas do país para testar, em pequena escala, a redução da jornada de 40 para 32 horas semanais. O estudo é financiado pelo governo e irá direcionar cerca de 50 milhões de euros para as empresas participantes.

A Microsoft Japão também conduziu um experimento de quatro dias de trabalho com o objetivo de melhorar o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho de seus colaboradores. No teste, realizado em agosto de 2019, foi possível observar um aumento de 40% na produtividade no período analisado.

Um ponto importante no estudo da Microsoft Japão foi um aumento “forçado” da eficiência dos funcionários, que precisaram cortar ou encurtar reuniões ou fazê-las de forma virtual.

Quais empresas brasileiras já adoraram a semana reduzida?

Por hora, a semana com apenas quatro dias de atividade ainda não tem grande adesão, sendo que a maioria das empresas adotantes estão no segmento de tecnologia. Confira abaixo algumas dessas empresas:

  • Crawly;
  • NovaHaus;
  • Winnin;
  • AAA Inovação;
  • Gerencianet;
  • Eva Benefícios;
  • Zee.dog.

Quer saber mais sobre esse assunto? Então confira este e-book sobre a semana de 4 dias e entenda como funciona e os aspectos legais desta prática.

Este conteúdo ajudou você a entender mais sobre a semana de quatro dias? Saiba que o RH Estratégico está atento às principais tendências e temas importantes do universo do RH. Continue acompanhando!

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